sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ser feliz "apesar de"...

Hoje não apresento um artigo de autoria própria. Preferi  reconstruir a vocês uma frase que ouvi agora há pouco. À primeira vista, poderia me parecer simples, mas me fez pensar muito. Quem a pronunciou talvez esteja vivendo um dos momentos mais difíceis de sua vida, e no qual eu sequer ousaria mensurar quão tamanha é a dor que esteja sentindo.

Leia, pense e, principalmente, sinta cada palavra e o que o todo quer nos dizer:

"Nós precisamos tentar ser felizes também nos momentos difíceis, senão perdemos a visão de todas as outras coisas boas que nos cercam..."

Viver é arriscado. Viver é perigoso. Mas para quem sabe fazê-lo com maestria, os fatos e obstáculos ultrapassam o sentido de uma simples aventura: é lição, aprendizado. Oportunidade de elevar o espírito, tornando a sua presença na Terra digna de ser e estar.

Agradeço a este amigo que me proporcionou mais um belo exemplo de vida. E sei, com toda a convicção, de que a força com o qual está se revestindo, o fará vencedor desse grande desafio.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Este é o "futuro" que queremos?


As aparências realmente enganam. Há pouco mais de um mês, vivíamos, em nosso país, um momento de euforia social, com aquela já velha esperança de que o “país do futuro” está próximo. Entre as pessoas, a efervescência da idéia de que o Brasil é a potência mundial vindoura: supremacia na produção, valorização da moeda, exportação em alta, negócios e mais negócios... Com uma rica biodiversidade, ainda haveria muito o que se explorar: novas descobertas da medicina e da indústria química que prometem revolucionar a ciência. Não há que se negar que esta não é uma realidade distante. Mas, em meio a tanta euforia, alguém parou para pensar no principal motor da máquina econômica?

Estava tudo muito tranquilo: Lula praticamente encerrava o seu mandato sem qualquer alarde que pudesse manchar a sua história. As classes em situação de vulnerabilidade social já estavam conquistando alguns direitos, como o acesso ao Ensino Superior, através das Cotas e do Prouni, além de serem inseridas em programas que visavam a erradicação da fome e o fim do desamparo social. Como um pai que fecha a porta do quarto de seu filho, ao fazê-lo adormecer, Lula estava fechando a porta do Brasil, certo de que havia feito o seu trabalho.

Porém, uma bomba relógio já estava em contagem regressiva, aguardando o momento exato de eclodir: a violência social. Bastou que a agitação das eleições acabasse, e os criminosos do Rio de Janeiro ousaram ao tentar fazer valer a sua força e mostrar “quem é que mandava”. E se surpreenderam ao ver o poderio do Estado, através do trabalho da polícia e das forças armadas. Mas o “incêndio”, apagado às pressas e sem muito planejamento, deixou sequelas e pequenas fogueiras acesas: de que adianta uma guerra urbana como a que assistimos? Isso significa que o Rio de Janeiro é uma cidade segura? Não. Absolutamente.

Centenas de criminosos foram presos e transferidos de presídios, alguns morreram em tiroteios e outros continuam foragidos da polícia. A comunidade, “agora sim”, pode andar tranquila nas ruas... Mas isso evita que a escola do crime forme novos traficantes potenciais? O que podem fazer as crianças que continuam a crescer sem expectativas de uma vida digna? Infelizmente, há que se reconhecer que as escolas públicas estão longe de conseguirem, sozinhas, cumprir o seu trabalho. Ainda há um paradigma muito maior a se quebrar: o da deficiência no sistema educacional gratuito. Todos sabemos que a educação é o melhor caminho para se promover a cidadania. E no Brasil, faltam recursos, força de vontade administrativa e muito, muito incentivo para que as crianças carentes tenham acesso a uma educação de qualidade.

A explicação? Simples: melhor termos uma massa medíocre do que uma maioria pensante, que faz valer e acontecer. Será que, nesta segunda situação, o Brasil seria diferente? Não tenho dúvidas de que muita sujeira e corrupção já estariam bem longe dos centros de administração pública... Entretanto, a realidade está gritando aos novos ouvidos e vibrante aos nossos olhos:  o ciclo começa com a educação deficiente e termina com um sistema carcerário falido e ineficaz... E assim, nascem crianças com infindáveis perspectivas de futuro e que se reduzem a números nas celas ou com o destino interrompido em tiroteios e afrontas com a polícia.

A guerra continua. Contudo, é a guerra pela mudança que precisa acontecer. E se existe uma chance, é agora, quando o Brasil abre as suas cortinas e se prepara para ser o “país do futuro”...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A metáfora dos cogumelos


A maioria de nós, jovens, para não dizer a totalidade, divide-se entre seus medos e sua motivação ousada. Se, em certa ocasião, não medimos esforços para superar nossos limites, em outra, o temor pelo fracasso costuma nos desencorajar a desbravar novos horizontes. Cada um vive à sua maneira e, obviamente, buscando a felicidade e a realização pessoal. Eu confesso que sempre acreditei nisto, convicta de que desviar de alguns desafios não nos fazia melhor ou pior; estávamos, apenas, preservando-nos de alguma intempérie que poderia nos surpreender quando totalmente desarmados. Acreditava naquela famosa desculpa: “eu não estou pronto, preciso amadurecer mais”. E, nisto, me esquivava de lutar pelos meus sonhos e, mais ainda, de agarrar a oportunidade que eu tinha de concretizá-los. Para a minha surpresa, descobri o óbvio de uma forma um tanto quanto inusitada: conversando com uma das maiores referências profissionais da minha área.

Naquela oportunidade, tão preciosa para mim, eu tentava absorver todo e qualquer exemplo que poderia me ser transmitido. Queria saber como eu deveria proceder para ser uma boa jornalista; quais as técnicas, o limite de sensibilidade, os melhores livros e contatos. Mas não foi bem assim que a conversa procedeu. Aprendi muito mais e hoje sou grata pela experiência única que pude desfrutar.
   
Sentamos em um restaurante no qual a especialidade era buffet de massas. Antes de nos servirmos, pedimos um vinho e trocamos algumas palavras sobre a história de cada um, as experiências (minhas, não muitas), e as paixões jornalísticas. Falei sobre a minha vontade de me encontrar profissionalmente e das limitações que me impediam de ousar mais. Entre uma desculpa e outra, disse: “por mais absurdo que possa parecer, acredito que o fato de nascer em uma cidade do interior, nos deixa mais conformistas ou com um certo medo de enfrentar o desconhecido. É a cultura da cidade, das pessoas. Nasci e cresci nesse ambiente e acho que absorvi muito desta lógica interiorana”. Ele somente ouvia e pedia para que eu detalhasse mais e mais. Ainda que a conversa estivesse interessante, eu parecia estar um pouco desapontada, porque esperava ouvir muito mais que falar. Mas aquela era a minha vez. Era o meu momento e somente eu não o percebia.
   
Quando fomos nos servir, ele sugeriu ao chefe o seu prato e, ao chegar a minha vez, pedi-lhe desculpas por ser um pouco “enjoada” para comer, por não gostar de verduras e aditivos exóticos. Ele, então, me perguntou: “você já experimentou?”, e eu, timidamente, respondi que não. Pediu a liberdade para montar o meu prato e adicionou cogumelos. Na minha mente, só conseguia pensar na vergonha que eu teria ao comer um prato que “não gosto” e nas possíveis “caras e bocas” que eu pudesse fazer. E, antes que eu degustasse o prato por ele preparado, ele interpelou: “quero que você experimente este novo sabor, mas sem nenhum preconceito com o que está no seu prato, apenas se deixe levar pelo gosto de cada ingrediente e depois me fale o que achou”. E fiz o que me foi sugerido. Surpreendi-me com um sabor inigualável, que eu poderia, hoje, julgar, como um dos melhores pratos que eu já experimentei. “E então? Gostou?”. Respondi-lhe que sim, que havia apreciado muito.

E, naquele momento, como que em uma epifania, ele me disse o que eu precisava ouvir há muito tempo e que mudou completamente o meu destino: “eu quero que você leve esta experiência para a sua vida, que você pode chamar como a ‘metáfora dos cogumelos’. Nada é ruim, se você não se permitir experimentar. Não tenha medo do desconhecido. Você pode descobrir a sua felicidade plena naquele caminho estreito e no qual você não consegue enxergar, sequer, os primeiros metros. Assim como o sabor dos cogumelos te surpreendeu, uma oportunidade nova também pode fazer o mesmo. E não me diga que você é uma inocente moça do interior, porque a nossa capacidade de superação está dentro de nós mesmos e não no ambiente em que vivemos”. Foram muitos minutos de silêncio após estas palavras. Ele pegou a minha mão, uma caneta e escreveu: “confie em você”. Não precisei de mais nada para agradecê-lo pela experiência incrível que eu havia desfrutado e também pelos cogumelos, que, certamente, mudaram o meu ponto de vista sobre a vida e, principalmente, sobre mim mesma.

E quem disser que não irá aproveitar uma oportunidade, por medo do desconhecido, experimente a metáfora dos cogumelos. Se hoje cheguei onde estou foi por causa dela. E onde quer que eu vá, ela estará comigo, me provando que vale a pena sonhar e mergulhar fundo em um universo rico de novas possibilidades e, principalmente, de grandes ensejos de auto-superação e descoberta de si próprio!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Você quer viajar sozinho ou entrar numa comitiva que também o leva a lugares fabulosos?


Para nós, jornalistas, a escrita é quase uma técnica. A prática redacional e a intimidade com as palavras são tamanhas que, às vezes, bastam uns 15, 20 minutinhos, e já temos uma matéria em mãos.  Digamos que seria uma produção em série: definição do tema, elaboração da pauta, escolha da fonte, realização da entrevista e, enfim, junção de vocábulos para dar sentido a uma cobertura. A grosso modo, poderia sem bem assim como eu descrevera. Mas escrever exige algo mais. Exige sentir as palavras e ter uma dinâmica especial com elas para que os símbolos possam ter o poder de levá-lo a determinado local. Vamos experimentar?

A cadeira de balanço, em madeira maciça já desgastada, move-se vagarosamente com a aconchegante brisa quente que passa pela varanda que circunda a casa. Num tom sonoro quase rítmico, o barulho do vai e vem da cadeira se mistura ao som das folhas se movendo na jabuticabeira vistosa da entrada. Faltava algo. Era um vazio que chegava a penetrar as entranhas da terra vermelha que se dispersava com o vento. Aquele cenário estaria completo se a cadeira não estivesse leve e vazia... 

 E então? O que você imaginou? Um casarão colonial de uma fazenda, rodeado por uma varanda? Ou um casebre, no meio do mato, em um cenário vistoso? Este é o poder das palavras. De fazê-lo criar a sua própria imagem, o seu filme pessoal da história que vai sendo desvelada. O segredo de um bom escritor é usar de adjetivos, mas sem desnudar o cenário por completo, pois, para que a leitura dialogue verdadeiramente com o leitor, é importante que se deixe esta lacuna à imaginação. Para isso, sentir as palavras é fundamental. Você precisa ter a sensibilidade afiada para viver e respirar cada frase... Escreve-se vivendo. E por isso esta paixão arrebatadora dos escritores pelo ofício. Porque somos capazes de criar e reviver (no caso dos jornalistas) situações. Vive-se o concreto e o imaginário criado pelo texto...

Desta argumentação, venho, agora, discutir uma “teoria particular”. Qualquer leitor de livros como “O Código da Vinci”, “Olga”, “Elite da Tropa”, ou demais obras que foram adaptadas para o cinema, se questionados sobre a produção cinematográfica, tecerão duras críticas ou, no mínimo, argumentação que o filme é superficial. Pois bem. Iniciemos com uma distinção óbvia: cinema e literatura são artes díspares. Cada uma delas se apropria de técnicas peculiares para entreter o público. No primeiro caso, preocupa-se não somente com o roteiro, mas com a atuação dos atores, o cenário, figurino e, o mais importante: o ângulo de cada tomada. Sim, porque cada ângulo de filmagem tem o seu significado. Se é feita uma tomada geral, pretende-se dizer algo e se, contrariamente, opta-se pelo primeiro plano, o efeito que se quer provocar é outro. Daí subentende-se que o cineasta faz a sua interpretação da obra e, em cima dela, planeja como serão conduzidas as gravações.

 Por exemplo: imagine-se criando um filme sobre uma obra que você leu. Você, certamente, vai buscar recriar os elementos que estavam em sua fantasia, procurando atores que se assemelham aos seus personagens idealizados, dentre outras posturas particulares. Por isso, a resignação do leitor que assiste o filme baseado na obra literária. Ele imagina, por exemplo, o casarão, e o cineasta, por sua vez, já pensou em um casebre e quis recriá-lo assim. Não se trata, portanto, de “verdades” contestadas e, sim, do particularismo que existe no infinito imaginário de cada um. Na leitura, nós somamos a nossa personalidade, os aspectos de nossa história pessoal ao que está sendo narrado. O cinema já nos apresenta uma visão formatada, entretanto, não perde o seu precioso valor por isso.

Temos que entender a finalidade de cada arte, para, assim, respeitá-la em suas peculiaridades e distinguir as técnicas que cada uma se apropria. O verdadeiro amante da cultura saberá absorver as riquezas de cada manifestação artística e explorar seus infindáveis valores. Leiam bastante, explorem o universo de possibilidades que o seu imaginário lhe proporciona todos os dias, e não deixem de viajar nas grandes produções cinematográficas que podem levá-lo a lugares ainda mais fantásticos!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Amor Original em "O Banquete"




Sabe quando a gente ainda estava no Segundo ou Terceiro Colegial, com aquelas aulas "chatas" de filosofia? Pois bem. Entre uma e outra atividade solicitada pelo professor, tive que ler "O Banquete", de Platão. Logo que recebi a tarefa, aproveitei para reclamar bastante por todos os cantos, afinal, era "um absurdo um professor nos pedir para ler uma obra tão antiga e difícil como aquela".

Mas não tive escolha. Peguei o livro e, vagarosamente, iniciei a leitura. O pedantismo foi indo embora e as dificuldades que, não vou negar, eram muitas, começaram a ser superadas. Realmente é um livro que exige bastante do leitor, com muitos termos complicados, frases e proposições, por vezes, enigmáticas. Mas a essência era interessante, e o tema, à primeira vista, simples: O AMOR.

Os filósofos, que se reuniram em um banquete para mais um discurso mediado por Sócrates, falavam do "Amor Original", vindo de Eros, o "Deus dos Deuses". Algumas opiniões são bastante emblemáticas, mas se pensadas e interpretadas, revelam verdades atemporais. Por isso, para dar continuidade e complementação à discussão do último post, apresento a vocês alguns trechos da obra:

“O amante faz tudo isso [serviços para o amado] com certa graça, o que lhe é permitido pela liberdade de nossos costumes, sem incidir na menor censura de ninguém, como se se tratasse de um ato louvabilíssimo. E o mais de admirar é que, no dizer do povo, somente o amante obtém perdão dos deuses, em caso de perjuro. Não há juras de amor, dizem. Desse modo, tanto os deuses como os homens concedem plena liberdade a quem ama, o que nossas leis confirmam.” (Segundo Pausânias)

"Quando acontece encontrar alguém a sua metade verdadeira, de um ou de outro sexo, ficam ambos tomados de um sentimento maravilhoso de confiança, intimidade e amor, sem que se decidam a separar-se, por assim dizer, um só momento. Essas pessoas, que passam juntas a vida, são, precisamente, as que não sabem dizer o que uma espera da outra. [...] E a razão disso é que primitivamente era homogêneo. A saudade desse todo e o empenho de restabelecê-lo é o que denominamos amor.[...] Falo em tese, tanto do homem como da mulher, para afirmar que nossa espécie só poderá ser feliz quando realizarmos plenamente a finalidade do amor e cada um de nós encontrar o seu verdadeiro amado, retornando, assim, à sua primeira natureza." (Segundo Aristófanes)

“Assim, múltiplo e grande, ou melhor, universal é o poder que em gera tem todo o Amor, mas aquele em torno do que é bom se consuma com sabedoria e justiça, entre nós como entre os deuses, é o que tem o máximo poder e toda felicidade nos prepara, pondo-nos em condições de não só entre nós mantermos convívio e amizade, como também com os que são mais poderosos que nós, os deuses.”
(Segundo Diotima)

O “amor” efêmero da modernidade




Ao jurar fidelidade à mulher idealizada, Vinícius de Morais era enfático: “Que seja infinito enquanto dure”... Há quem ainda acredite nessas palavras e até as busque colocar em prática em seus relacionamentos, mas, afinal, como a sociedade moderna vê e vive o amor?

Em sua essência, o conceito de amor não mudou. Amar é entrega, sincronia e respeito às diferenças. Quem ama verdadeiramente, supera os desafios diários de desacordos entre as personalidades e convicções. Porque cada pessoa carrega em si a sua identidade e dividir uma vida não significa abrir mão do que se é para se encaixar em um modelo estereotipado que a outra idealiza. Quem vive ou já viveu o amor sabe do que eu digo. Quando se ama, se ama por inteiro, incluindo aquilo que se julga por “defeitos”. Tenho a convicção de que a fidelidade seria que um adendo ao amor: quando se ama, se é fiel. Porque amor também é devoção, mas, claro, com o devido entendimento de que é uma devoção sadia.

E então, eu me questiono: porque tantos casais jovens e até mesmo pessoas mais maduras e casadas, se aventuram em uma traição? Seria uma forma de massagear mais o ego? Provavelmente sim. Algumas relações desgastadas ainda insistem em se sustentar pelo medo dos envolvidos de não encontrarem “alguém que o ame tanto”. Mas isso é amor? Você reconhece que o relacionamento não vai bem, que as disparidades começam a se estabelecer, mas insiste nesse caso talvez já doentio e, para cultivar uma auto-estima perdida, estabelece um relacionamento paralelo. Quem ama é, automaticamente, fiel. Porque amar é como olhar-se ao espelho e reconhecer uma identidade. E quem se identifica com alguém não quer ver o seu sofrimento, ainda que intimamente presente na angústia de quem engana.

Na outra extremidade, os solteiros e boehmios se espalham. Se disfarçam de armaduras da “felicidade pura” e da mais elevada "auto-resolução", ao passo que por detrás daquele envoltório provavelmente está um amor frustrado, uma culpa ou a dor da solidão.  A moda agora é ser “pegador”. Para quê dedicar a sua vida a alguém se você pode tê-la inteiramente para si sem abrir mão de alimentar os seus instintos sexuais? Desculpe pela frieza e talvez crueldade. Mas a realidade está bem diante dos nossos olhos.

Lembro-me bem de uma crônica de Arnaldo Jabor em que ele enfatizava os perfis em redes sociais e as comunidades que as pessoas se ligam para se protegerem do “amor ausente”: “Solteiro sim, sozinho nunca!”, “Quem tem sorte é sortero”, “Vamos beber, porque amar está difícil”... E aí começa o ciclo vicioso: mulheres que entram na disputa acirrada pelos garanhões ou pelo “amor” de uma noite, e homens que se envolvem por uma bolha de frieza, acreditando que é mais fácil se divertir por um dia do que “aborrecer-se” buscando decifrar o “pensamento enigmático das mulheres”.  Um culpando o outro pelos desvios... E quem está errado? Ninguém. Ou ambos.

O certo é que o amor não está conquistando o seu espaço porque muitas portas estão fechadas para ele. Então, sede-se lugar a uma paixão circunstancial e o “melhor”: efêmera. E aí o juramento de fidelidade, de uma vida, reduz-se a instantes de satisfação imediata: “Que seja infinito enquanto dure”- uma semana, uma noite, ou o tempo suficiente para a abertura de um coração acautelado pelo medo de perder ou "ser perdido"...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sobre experiência e maniqueísmo

Há quem diga que o ser humano é composto por essências bipolares. De um lado, a bondade, a inocência e a aceitação. De outro, a perversidade aliada ao egoísmo e ao posicionamento imperativo.  Em determinadas situações, extravasamos o nosso caráter bom e em ocasiões díspares, é o nosso lado perverso que domina. 

 Passei a minha vida inteira acreditando que quem nasce com uma índole cruel nunca seria corrigido. Poderia ser rico, pobre, imponente ou discriminado. Se o indivíduo tinha uma tendência ao mal, em quaisquer situações esta se manifestaria. Pensava: “porque existem pessoas boas e más em um mesmo contexto? O ambiente não teria que influenciá-las a ter uma conduta semelhante?” Por exemplo, em uma favela, coexistem os bandidos e também os trabalhadores honestos, que nunca se corromperam e se deixaram influenciar pelo clima transgressor ali instalado. Então, eu estava certa de que a tendência à crueldade estava na essência da pessoa que se inclinava a uma postura anti-solidária e destrutiva. Mas bastou uma conversa com um amigo para que eu pudesse entender e edificar uma “teoria do maniqueísmo” em minha mente. 

A palavra de ordem é “experiência”. Sim, a maldade, para ele, nada mais é do que “a falta de experiência”. Quem não se abre a oportunidades de conhecer os seus dois lados e as vantagens e desvantagens de cada um deles, poderia então crer que ser perverso é uma forma mais fácil e rápida de se impor e conseguir certo “status”. Se você não vive, não experimenta diferentes sensações, não conhece suas reações perante tais e tampouco se conhece verdadeiramente. 

Pensei neste novo ponto de vista e confesso que a argumentação me convenceu. Tentei resgatar um episódio real que pudesse contextualizar a idéia de “maldade” e “experiência” e me veio um fato marcante em mente. Quem não conhece o episódio do ônibus 174? Um “bandido” seqüestrara um ônibus no Rio de Janeiro, mantendo reféns sob a mira de um revólver e mobilizando dezenas de repórteres e cinegrafistas que, sem escrúpulos, registravam e transmitiam o crime em tempo real. Depois de um verdadeiro “show de encenações e horror”, o seqüestrador, Sandro, decidiu descer do ônibus com uma refém em seu controle. A inexperiência da polícia foi a gota d’água para que o pior acontecesse. Um atirador de elite apontou o fuzil diante de Sandro e este, ao se defender, abaixou e disparou a sua arma que estava apontada para a refém. Ao final, a captura do bandido e o seu enforcamento pelos policiais durante o trajeto do local da ocorrência até a delegacia. Fim. Quem venceu? A justiça amarga amparada pela bondade ou a maldade que se desnudou em atos cruéis? Nada explica melhor do que a “experiência”.

Sandro, aos 6 anos, presenciou sua mãe, grávida sendo assassinada na mercearia da família. Abandonou sua casa, foi morar nas ruas e assistiu à Chacina da Candelária. Mais tarde, envolveu-se com drogas e passou a conviver com pequenos ladrões moradores de rua. Até o que constava em sua ficha policial, nunca tinha sido autor de nenhum assassinato. Suas passagens pela polícia eram sempre por roubo e uso de drogas. O sonho do jovem era ser artista de TV. Drogado (e, provavelmente, tomado por mais um momento de raiva e revolta), Sandro assalta um ônibus e se vê rodeado de câmeras. De maneira controversa e desconcertante, o seu “sonho” estava sendo realizado. Mandou uma refém abaixar-se, fez uma cena de que iria atirar nela e deu um tiro longe. Por que não a matou? Não seria tão “simples” para alguém que não tinha família e nem destino? Poderia ser, mas a experiência falou mais alto. Embora Sandro tivesse convivido com diversos tipos nas ruas, ele, ainda que por pouco tempo, teve uma base familiar, que, mesmo dentro da favela, dava-lhe o exemplo de que era possível ser alguém trabalhando honestamente. Aos demais que se extraviam, falta-lhes, talvez, a base ou a interpretação da experiência. 

Era neste exato ponto que eu gostaria de chegar. Não basta apenas viver a experiência. Deve-se entendê-la. A conduta perversa pode sim denotar da falta de experiência, mas há também quem viva muito e pense pouco. Ou que tem aquela teimosa mania de reduzir e simplificar demais as coisas.

 Os sentimentos levam à ação e estas nos dão a abertura de uma posterior reflexão. São os efeitos da atitude que modificam ou nos fazem permanecer em uma determinada conduta. Experiência é, sim, fator de influência da maldade. Mas, antes de qualquer coisa, a postura analítica é o que, certamente, faz valer e acontecer. Sinta, viva. Mas, sobretudo, pense!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Retalhos da história pessoal




Antes de qualquer postagem que inicie as discussões neste blog (o que assim espero!), acredito ser fundamental que os leitores conheçam o perfil da autora deste. Para facilitar, apresento um texto que redigi para um concurso, no qual solicitava-me que narrasse a minha história pessoal e o porquê de ter escolhido o Jornalismo como profissão.

Então, meus amigos, descortino a vocês a aventura que me trouxe até a formação como comunicadora:

"Jornalista graduada, repórter apaixonada. Profissional da fala e da escrita e uma amante convicta do ofício de conhecer o ser humano e suas histórias. Poderia assim me descrever e temperar esta mistura pessoal com a paixão pelo desafio e a curiosidade inquieta.

Ainda que oriunda de um pequeno e pacato município do interior de Minas Gerais, decidi romper as fronteiras das ‘montanhas’ que me circundavam. Ultrapassei os contornos espaciais, ao residir em quatro cidades diferentes e, mais ainda, ousei transpor os limites da minha capacidade de superação e coragem para lidar com o novo. Aos 15 anos, deixei a cidade natal de São Vicente de Minas. Aos 18, a vida me desafiou com uma difícil escolha: abandonar a faculdade pública de Ciências Biológicas para seguir o pulso instintivo que me chamava ao Jornalismo.

De um lado, o futuro certeiro como bióloga. De outro, um destino hipotético, talvez, como comunicadora. Em uma ponta, a profissão inicialmente incentivada pela família e professores e, no extremo exato, a verdadeira vocação de quem, desde pequena, tinha o prazer em atuar como interlocutora da informação, seja nas apresentações da escola, nas brincadeiras e reuniões de família...

Por pouco, não mergulhei fundo no estudo das ciências naturais. O desejo de desbravar o laboratório do cotidiano falou mais alto. E, dali em diante, um novo sonho foi edificando-se: Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Comunicação Social. Uma viagem incrível pelo mundo das palavras, das ondas do rádio, da sintonia da TV e dos bytes da hipermídia...

Com o diploma nas mãos, me reconheci, mais que uma especialista, uma verdadeira amante da profissão de jornalismo: missão suprema de informar e levar conhecimento; de superar limites, medos e perigos. Em um novo desafio, a oportunidade e o papel social de revelar o herói que existe dentro de cada anônimo. De aproximar mundos distantes e fazer das realidades próximas uma oportunidade de aprendizado ou mudança.

O desejo por desvendar estas histórias me fez ter a certeza de que o meu futuro estava no jornalismo. E foi este impulso que me encorajou a seguir meus instintos em busca de novas aventuras e  experiências... Do pequeno clã interiorano de Minas para um horizonte inteiro de novas possibilidades!"

Apresentação

Vontade realmente não faltava. A habitual desculpa da falta de tempo talvez tenha sido a minha maior inimiga nesse longo processo entre idealizar um blog e concretizá-lo. Com o incentivo de um amigo e o "puxão de orelha" do irmão, deixei o comodismo de lado e inauguro este novo espaço de discussões:


Sintaxe Dialógica = combinação de palavras e frases que dialogam entre si. Nesta perspectiva, o meu objetivo maior é que este espaço seja utilizado realmente como uma ferramenta de interação. Para tanto,  partirei do princípio de que nenhum  texto que aqui publicarei será oriundo de um pensamento pessoal. Cada artigo será redigido com base em uma idéia suscitada por algum amigo, colega de trabalho ou uma pessoa nova que eu venha a conhecer. A partir da opinião do outro, tecerei a minha e, claro, ficará sempre a oportunidade de comentários subsequentes que promovam uma rede de idéias.


Como já dizia Descartes, "Penso, logo existo". Então, porque não tornar esta "existência" ainda mais interessante e paupável, registrando-as em palavras? A sintaxe está a nosso serviço, portanto, vale mesmo é utilizar-se dela para promover um diálogo que proporcione a evolução intelectual e pessoal.


Sejam bem-vindos ao blog e espero que possamos desfrutar de bons momentos "epifânicos"!