terça-feira, 9 de novembro de 2010

O “amor” efêmero da modernidade




Ao jurar fidelidade à mulher idealizada, Vinícius de Morais era enfático: “Que seja infinito enquanto dure”... Há quem ainda acredite nessas palavras e até as busque colocar em prática em seus relacionamentos, mas, afinal, como a sociedade moderna vê e vive o amor?

Em sua essência, o conceito de amor não mudou. Amar é entrega, sincronia e respeito às diferenças. Quem ama verdadeiramente, supera os desafios diários de desacordos entre as personalidades e convicções. Porque cada pessoa carrega em si a sua identidade e dividir uma vida não significa abrir mão do que se é para se encaixar em um modelo estereotipado que a outra idealiza. Quem vive ou já viveu o amor sabe do que eu digo. Quando se ama, se ama por inteiro, incluindo aquilo que se julga por “defeitos”. Tenho a convicção de que a fidelidade seria que um adendo ao amor: quando se ama, se é fiel. Porque amor também é devoção, mas, claro, com o devido entendimento de que é uma devoção sadia.

E então, eu me questiono: porque tantos casais jovens e até mesmo pessoas mais maduras e casadas, se aventuram em uma traição? Seria uma forma de massagear mais o ego? Provavelmente sim. Algumas relações desgastadas ainda insistem em se sustentar pelo medo dos envolvidos de não encontrarem “alguém que o ame tanto”. Mas isso é amor? Você reconhece que o relacionamento não vai bem, que as disparidades começam a se estabelecer, mas insiste nesse caso talvez já doentio e, para cultivar uma auto-estima perdida, estabelece um relacionamento paralelo. Quem ama é, automaticamente, fiel. Porque amar é como olhar-se ao espelho e reconhecer uma identidade. E quem se identifica com alguém não quer ver o seu sofrimento, ainda que intimamente presente na angústia de quem engana.

Na outra extremidade, os solteiros e boehmios se espalham. Se disfarçam de armaduras da “felicidade pura” e da mais elevada "auto-resolução", ao passo que por detrás daquele envoltório provavelmente está um amor frustrado, uma culpa ou a dor da solidão.  A moda agora é ser “pegador”. Para quê dedicar a sua vida a alguém se você pode tê-la inteiramente para si sem abrir mão de alimentar os seus instintos sexuais? Desculpe pela frieza e talvez crueldade. Mas a realidade está bem diante dos nossos olhos.

Lembro-me bem de uma crônica de Arnaldo Jabor em que ele enfatizava os perfis em redes sociais e as comunidades que as pessoas se ligam para se protegerem do “amor ausente”: “Solteiro sim, sozinho nunca!”, “Quem tem sorte é sortero”, “Vamos beber, porque amar está difícil”... E aí começa o ciclo vicioso: mulheres que entram na disputa acirrada pelos garanhões ou pelo “amor” de uma noite, e homens que se envolvem por uma bolha de frieza, acreditando que é mais fácil se divertir por um dia do que “aborrecer-se” buscando decifrar o “pensamento enigmático das mulheres”.  Um culpando o outro pelos desvios... E quem está errado? Ninguém. Ou ambos.

O certo é que o amor não está conquistando o seu espaço porque muitas portas estão fechadas para ele. Então, sede-se lugar a uma paixão circunstancial e o “melhor”: efêmera. E aí o juramento de fidelidade, de uma vida, reduz-se a instantes de satisfação imediata: “Que seja infinito enquanto dure”- uma semana, uma noite, ou o tempo suficiente para a abertura de um coração acautelado pelo medo de perder ou "ser perdido"...

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