quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Você quer viajar sozinho ou entrar numa comitiva que também o leva a lugares fabulosos?


Para nós, jornalistas, a escrita é quase uma técnica. A prática redacional e a intimidade com as palavras são tamanhas que, às vezes, bastam uns 15, 20 minutinhos, e já temos uma matéria em mãos.  Digamos que seria uma produção em série: definição do tema, elaboração da pauta, escolha da fonte, realização da entrevista e, enfim, junção de vocábulos para dar sentido a uma cobertura. A grosso modo, poderia sem bem assim como eu descrevera. Mas escrever exige algo mais. Exige sentir as palavras e ter uma dinâmica especial com elas para que os símbolos possam ter o poder de levá-lo a determinado local. Vamos experimentar?

A cadeira de balanço, em madeira maciça já desgastada, move-se vagarosamente com a aconchegante brisa quente que passa pela varanda que circunda a casa. Num tom sonoro quase rítmico, o barulho do vai e vem da cadeira se mistura ao som das folhas se movendo na jabuticabeira vistosa da entrada. Faltava algo. Era um vazio que chegava a penetrar as entranhas da terra vermelha que se dispersava com o vento. Aquele cenário estaria completo se a cadeira não estivesse leve e vazia... 

 E então? O que você imaginou? Um casarão colonial de uma fazenda, rodeado por uma varanda? Ou um casebre, no meio do mato, em um cenário vistoso? Este é o poder das palavras. De fazê-lo criar a sua própria imagem, o seu filme pessoal da história que vai sendo desvelada. O segredo de um bom escritor é usar de adjetivos, mas sem desnudar o cenário por completo, pois, para que a leitura dialogue verdadeiramente com o leitor, é importante que se deixe esta lacuna à imaginação. Para isso, sentir as palavras é fundamental. Você precisa ter a sensibilidade afiada para viver e respirar cada frase... Escreve-se vivendo. E por isso esta paixão arrebatadora dos escritores pelo ofício. Porque somos capazes de criar e reviver (no caso dos jornalistas) situações. Vive-se o concreto e o imaginário criado pelo texto...

Desta argumentação, venho, agora, discutir uma “teoria particular”. Qualquer leitor de livros como “O Código da Vinci”, “Olga”, “Elite da Tropa”, ou demais obras que foram adaptadas para o cinema, se questionados sobre a produção cinematográfica, tecerão duras críticas ou, no mínimo, argumentação que o filme é superficial. Pois bem. Iniciemos com uma distinção óbvia: cinema e literatura são artes díspares. Cada uma delas se apropria de técnicas peculiares para entreter o público. No primeiro caso, preocupa-se não somente com o roteiro, mas com a atuação dos atores, o cenário, figurino e, o mais importante: o ângulo de cada tomada. Sim, porque cada ângulo de filmagem tem o seu significado. Se é feita uma tomada geral, pretende-se dizer algo e se, contrariamente, opta-se pelo primeiro plano, o efeito que se quer provocar é outro. Daí subentende-se que o cineasta faz a sua interpretação da obra e, em cima dela, planeja como serão conduzidas as gravações.

 Por exemplo: imagine-se criando um filme sobre uma obra que você leu. Você, certamente, vai buscar recriar os elementos que estavam em sua fantasia, procurando atores que se assemelham aos seus personagens idealizados, dentre outras posturas particulares. Por isso, a resignação do leitor que assiste o filme baseado na obra literária. Ele imagina, por exemplo, o casarão, e o cineasta, por sua vez, já pensou em um casebre e quis recriá-lo assim. Não se trata, portanto, de “verdades” contestadas e, sim, do particularismo que existe no infinito imaginário de cada um. Na leitura, nós somamos a nossa personalidade, os aspectos de nossa história pessoal ao que está sendo narrado. O cinema já nos apresenta uma visão formatada, entretanto, não perde o seu precioso valor por isso.

Temos que entender a finalidade de cada arte, para, assim, respeitá-la em suas peculiaridades e distinguir as técnicas que cada uma se apropria. O verdadeiro amante da cultura saberá absorver as riquezas de cada manifestação artística e explorar seus infindáveis valores. Leiam bastante, explorem o universo de possibilidades que o seu imaginário lhe proporciona todos os dias, e não deixem de viajar nas grandes produções cinematográficas que podem levá-lo a lugares ainda mais fantásticos!

Um comentário:

  1. Good one, girl!
    O que voce disse é verdade.. Cada arte é uma arte diferente a ser explorada.
    Porém, há de convir que dá uma raivinha quando o cine. nao representa da maneira igual a que voce imaginou! hahaha =D
    é normal!
    Afinal, quem nao quer ver a fantasia vindo à "realidade" ( ainda que nas telas de cinema )???

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